Evolução ou Involução da Humanidade!?

Para nós, importa apenas estabelecer onde começa a evolução e como prossegue. E se nos lembrarmos da analogia completa entre a humanidade e o homem, não será difícil estabelecer se a humanidade está ou não em evolução.

   “Podemos dizer, por exemplo, que a vida é governada por um grupo de homens conscientes?   Onde estão? Quem são? Vemos exatamente o contrário. A vida está em poder dos mais inconscientes e dos mais adormecidos.

   “Podemos dizer que observamos na vida uma preponderância dos elementos melhores, dos mais fortes, dos mais corajosos? – De modo algum. Ao Contrário, vemos, em toda parte, o reino da vulgaridade e da estupidez em todas as suas formas.

   “Podemos dizer, por fim, que vemos na vida aspirações em direção à unidade, em direção a unificação? Certamente não. Só vemos novas divisões, novas hostilidades, novos mal-entendidos.

   “De modo que, na situação atual da humanidade, nada denota uma evolução. Ao contrário, se compararmos a humanidade a um homem, veremos claramente o crescimento da personalidade às custas da essência, que quer dizer, o crescimento do artificial, do irreal, do que não é nosso, as expensas do natural, do real, do que é bem nosso.

   “ Ao mesmo tempo, constatamos um crescimento do automatismo.

   “ A civilização contemporânea quer autômatos. E as pessoas estão seguramente perdendo seus hábitos adquiridos de independência, transformam-se cada vez mais em robôs, não são mais que engrenagens de suas máquinas. É impossível dizer como tudo isso acabará, e como sair  dai – nem mesmo se pode haver um fim e uma saída. Uma só coisa é certa: a escravidão do homem só aumenta. O homem torna-se um escravo voluntário. Não tem mais necessidade de grilhões: começa a amar sua escravidão, a orgulhar-se dela. E nada mais terrível poderia acontecer ao homem.

   - Tudo o que disse até agora referia-se à humanidade considerada em seu conjunto. Mas, como já assinalei, a evolução da humanidade só se pode fazer através da evolução de um certo grupo que, por sua vez, influenciará e dirigirá o resto da humanidade.

   “Podemos dizer que existe tal grupo? Talvez possamos, com base em certos sinais, mas, em todo caso, devemos reconhecer que é um grupo muito pequeno, totalmente insuficiente para subjugar o resto da humanidade. Ou então, considerando as coisas de outro ponto de vista, podemos dizer que a humanidade está num estado tal, que é incapaz de aceitar a direção de um grupo consciente.

   - Quantas pessoas pode haver nesse grupo consciente? Perguntou alguém.

   - Só eles sabem, respondeu G.

   - Quer dizer que todos se conhecem? Perguntou a mesma pessoa.

   - E poderia ser de outro modo? Imaginem dois ou três homens acordados no meio de uma multidão de adormecidos. Certamente se reconhecerão. Mas o que estão adormecidos não podem conhece-los. Quantos são? Não sabemos e não podemos saber antes de termos despertado; já explicamos que um homem nada pode ver acima de seu próprio nível de ser. De certo, duzentos homens conscientes, se existissem e achassem essa intervenção necessária e legítima, poderiam modificar toda a vida sobre a terra. Mas ou não existem em número suficiente, ou não querem, ou os tempos ainda não chegaram, ou talvez os outros estão dormindo profundo demais.

P.D. Ouspensky – Fragmentos de um ensinamento Desconhecido – em busca do milagroso – Ed.Pensamento Pg.352,353